terça-feira, 12 de janeiro de 2010

E agora todas as noites ele acordava gritando, os olhos suados, o corpo endurecido
Olhava em volta, mas a casa permanecia quieta, vazia e fria,
Já fazia uma semana que tudo havia acontecido e o estado de torpor não se rompia
Era 23 de março quando ela foi embora, chovia muito
Ela não lhe disse muitas palavras, ou talvez tenha dito
Ele não se lembrava de muita coisa,
As imagens ficaram embaçadas pelas lágrimas, a voz dela entorpecida pela dor
E então, o fim: o barulho da porta batendo, e o frio crescendo no peito
Passava os dias na cama, biscoitos, lembranças e vodka espalhados pelo chão
Andando pelo quarto, era possível tropeçar em algum sentimento,
Cair dentro de uma caixa cheia de emoções,
escorregar num amontoado de “dias felizes”.
Ele desfazia-se de tudo, dos carinhos e das promessas,
Do “para sempre”.
Não sentia mais quase nada, apenas a dor no peito e o frio.
E o tempo foi passando,
Ela não voltou e ele não viu outra saída. Continuou a esvaziar-se.
Na mesa da cozinha ele depositou o seu coração,
Os pulmões ficaram na sala, ao lado do peixe azul,
Olhos, rins e fígados largados na caixa das lembranças no quarto...
Apenas a dor no peito e o frio.

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